Opinião

A ilusão da posse, a covardia tática e o risco de mais um ano jogado fora

A boa fase durou pouco.

Após duas vitórias seguidas e um empate em casa que já havia deixado um gosto amargo, o Coritiba foi a Belém na noite de segunda-feira (21) e perdeu por 1×0 para o Clube do Remo. A atuação? Dominante na posse, nas finalizações e nos passes — mas absolutamente inofensiva. O retrato de um time que gira, gira, mas não chega. Que ronda a área adversária como se tivesse medo de entrar nela.

A derrota escancara o que já vinha sendo dito há semanas: o Coritiba precisa urgentemente de reforços. Em todas as posições. Mas especialmente nas pontas, no meio ofensivo e no comando de ataque. A SAF, que tem acertado em várias frentes extracampo, precisa abrir os olhos e agir na próxima janela. Se não vierem jogadores de impacto, o risco de flertar com o meio de tabela — ou pior — é real. A nona posição atual é um aviso.

Muita posse, pouco resultado – Remo x Coritiba 21/04/2025

Mozart não é — e nunca foi — um treinador ofensivo. Seu histórico mostra um técnico que privilegia a consistência defensiva e a ideia de vencer por 1×0. Só que com um elenco estéril no ataque, essa estratégia se torna um convite ao fracasso. Um gol tomado é sentença. E gol feito, só se o acaso ajudar. A conta não fecha.

Mas o que mais preocupa não é só o que acontece em campo. É o que parece não acontecer fora dele. A impressão que se tem é de que não há cobrança no vestiário. Não há incômodo real com os resultados. Que se aceita o “jogamos bem”, o “dominamos”, o “estamos aprendendo”. Como se isso pagasse salário, como se isso valesse três pontos.

Mozart, treinador do Coritiba — Foto: Jairton Conceição/RPC

Time grande não aceita derrota. Não se conforma com empate. Não exalta posse de bola sem gol. Time grande ganha — e se irrita com qualquer coisa que não seja vitória.

E o Coritiba, que já foi grande, vai se apequenando a cada rodada em que se contenta com menos.

Enquanto isso, o bom clima que vinha sendo criado com a torcida — com promoções, reaproximação, presença de dirigentes no CT, Green Hell no Couto — começa a desmoronar. Não porque a torcida não queira apoiar. Mas porque a torcida está cansada. E, honestamente, eu também.

📉 Números que não mentem (mas enganam)

  • Posse de bola: 64%
  • Finalizações: 22 (contra 7 do adversário)
  • Escanteios: 12 (contra 1)
  • Gols esperados (xG): 1.76 (contra 0.59)

O Coritiba teve o controle do jogo, mas foi um controle estéril. Finalizou muito, mas sem contundência. Cruzou muito, mas sem qualidade. Dominou territorialmente, mas foi neutralizado no que realmente importa: o placar.

⏭️ Próximos desafios

O Coritiba agora volta para Curitiba, onde enfrentará o Operário no Couto Pereira. A partida será no próximo sábado (27), pela 5ª rodada da Série B. Mais do que uma vitória, será preciso mostrar que há vida, indignação e ambição neste elenco.

Porque com esse futebol morno e esse espírito resignado, a Série B vira armadilha. E o sonho do acesso, mais um delírio de abril.

As estatísticas apresentadas nesta coluna foram obtidas por meio da plataforma SofaScore.