Opinião
A ilusão da posse, a covardia tática e o risco de mais um ano jogado fora
A boa fase durou pouco.
Após duas vitórias seguidas e um empate em casa que já havia deixado um gosto amargo, o Coritiba foi a Belém na noite de segunda-feira (21) e perdeu por 1×0 para o Clube do Remo. A atuação? Dominante na posse, nas finalizações e nos passes — mas absolutamente inofensiva. O retrato de um time que gira, gira, mas não chega. Que ronda a área adversária como se tivesse medo de entrar nela.
A derrota escancara o que já vinha sendo dito há semanas: o Coritiba precisa urgentemente de reforços. Em todas as posições. Mas especialmente nas pontas, no meio ofensivo e no comando de ataque. A SAF, que tem acertado em várias frentes extracampo, precisa abrir os olhos e agir na próxima janela. Se não vierem jogadores de impacto, o risco de flertar com o meio de tabela — ou pior — é real. A nona posição atual é um aviso.

Mozart não é — e nunca foi — um treinador ofensivo. Seu histórico mostra um técnico que privilegia a consistência defensiva e a ideia de vencer por 1×0. Só que com um elenco estéril no ataque, essa estratégia se torna um convite ao fracasso. Um gol tomado é sentença. E gol feito, só se o acaso ajudar. A conta não fecha.
Mas o que mais preocupa não é só o que acontece em campo. É o que parece não acontecer fora dele. A impressão que se tem é de que não há cobrança no vestiário. Não há incômodo real com os resultados. Que se aceita o “jogamos bem”, o “dominamos”, o “estamos aprendendo”. Como se isso pagasse salário, como se isso valesse três pontos.

Time grande não aceita derrota. Não se conforma com empate. Não exalta posse de bola sem gol. Time grande ganha — e se irrita com qualquer coisa que não seja vitória.
E o Coritiba, que já foi grande, vai se apequenando a cada rodada em que se contenta com menos.
Enquanto isso, o bom clima que vinha sendo criado com a torcida — com promoções, reaproximação, presença de dirigentes no CT, Green Hell no Couto — começa a desmoronar. Não porque a torcida não queira apoiar. Mas porque a torcida está cansada. E, honestamente, eu também.
📉 Números que não mentem (mas enganam)
- Posse de bola: 64%
- Finalizações: 22 (contra 7 do adversário)
- Escanteios: 12 (contra 1)
- Gols esperados (xG): 1.76 (contra 0.59)
O Coritiba teve o controle do jogo, mas foi um controle estéril. Finalizou muito, mas sem contundência. Cruzou muito, mas sem qualidade. Dominou territorialmente, mas foi neutralizado no que realmente importa: o placar.
⏭️ Próximos desafios
O Coritiba agora volta para Curitiba, onde enfrentará o Operário no Couto Pereira. A partida será no próximo sábado (27), pela 5ª rodada da Série B. Mais do que uma vitória, será preciso mostrar que há vida, indignação e ambição neste elenco.
Porque com esse futebol morno e esse espírito resignado, a Série B vira armadilha. E o sonho do acesso, mais um delírio de abril.
As estatísticas apresentadas nesta coluna foram obtidas por meio da plataforma SofaScore.