Opinião

Da Apatia à Esperança: o Coritiba Reencontra Seu Caminho

No fim de abril, depois da derrota em Belém para o Remo por 1×0, escrevi aqui: “vivemos a ilusão da posse, a covardia tática e o risco de mais um ano jogado fora”. Era mais do que um desabafo — era um espelho. Um retrato nu e cru de um time sem identidade, de um clube que, mais uma vez, parecia repetir seus próprios erros com uma teimosia quase cruel. A eliminação precoce na Copa do Brasil, o fiasco no Paranaense, a Série B se iniciando sem qualquer horizonte… o sentimento era de descrença. E confesso: temi o pior.

Onze jogos depois, o retrato mudou. O que era apatia virou gana. O que era medo virou confiança.
O Coritiba reencontrou o caminho.

Sete vitórias, dois empates, duas derrotas. Doze gols marcados, apenas quatro sofridos. A melhor defesa da competição. Um clássico vencido dentro da casa do rival — e com um golaço cinematográfico de Seba Gómez, que parece ter chutado, ali, mais do que uma bola: chutou a inércia, a vergonha, a letargia. Ali nasceu outro Coritiba.

Dentro de casa, o Coxa virou uma fortaleza, uma muralha. Um alçapão! São cinco vitórias seguidas, sem sofrer um único gol desde 31 de maio. Fora de casa, também evoluímos: 2 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Nada brilhante, mas sólido – e suficiente para manter o time no pelotão de frente. Longe dos nossos domínios, não tomamos gol desde 10/05. O sistema defensivo, tão criticado (inclusive por mim), se solidificou com uma linha formada por Maicon, Jacy, Bruno Melo e Zeca, protegida por um meio-campo mais compacto e um goleiro seguro. Desde que Pedro Morisco voltou à meta após lesão, o Coritiba sofreu apenas um gol — e de bola parada, com desvio. Se existe uma espinha dorsal em construção, ela começa na defesa.

Mas não é só isso. O time de Mozart não é brilhante. Longe disso. Mas é pragmático. É sério. Tem cara de time. Não joga bonito, mas joga firme. Não empilha chances, mas aproveita. Marca bem, transita com inteligência e finaliza com convicção. É um time eficiente — e, por ora, isso basta.

A grande diferença? Hoje existe conexão. Elenco, comissão técnica, SAF, Associação e — talvez o mais importante — torcida.
Há um senso de pertencimento sendo resgatado. O Coritiba que entra em campo hoje não é perfeito, mas carrega consigo a responsabilidade de representar uma camisa centenária. E tem feito isso com dignidade.

É justo reconhecer quem ajudou a mudar o curso. William Thomaz, duramente criticado (inclusive por esta coluna), parece ter acertado o leme. A SAF, na figura de Bruno D’Ancona e da Treecorp, deu sinais de maturação. Coincidência ou não, desde a chegada de Lucas de Paula como CEO, o clube deixou de andar em círculos e começou a andar pra frente. Com rumo. Com método.

Nada garante o acesso. Nada garante o título. O futebol não é ciência exata.
Mas hoje, o torcedor olha pra tabela, assiste aos jogos, e sente esperança — algo que parecia morto em abril.

E talvez esse seja o maior ganho: a esperança não veio por ilusão, mas por convicção. Veio do que se vê em campo, do que se ouve nas arquibancadas, do que se constrói no vestiário.
Veio de uma base defensiva sólida. De um clássico vencido. De uma sequência consistente.
Veio, principalmente, de um Coritiba que parou de se sabotar.

Sim, os tropeços virão. O campeonato é longo. Mas hoje, diferentemente de abril, a torcida parece disposta a entender esses tropeços como acidentes de percurso – e não como sintomas de um projeto fracassado. Se a postura continuar essa, se a entrega seguir firme, se a sinergia for mantida, a Série A deixará de ser uma meta distante e se tornará um desfecho justo.

E se vier o título… que seja como tem que ser: suado, com raça. Coritibano!