Divulgação/Coritiba

Análises

Coritiba inicia a Série B sob pressão

Com uma reformulação no elenco que caiu para a segunda divisão e sob nova direção, o clube viu um início de Campeonato Paranaense e Copa do Brasil interessantes, mas uma queda vertiginosa de produção e consequente eliminação precoce no Estadual.

Os comandados do paraguaio Gustavo Morínigo entram na competição pressionados por bons desempenhos, assim como o treinador.

Gustavo Morínigo

A diretoria do Coritiba contratou o técnico estrangeiro ainda na Série A e garantiu sua permanência até o fim da Série B. Morínigo começou mostrando serviço na temporada 2021. O treinador gosta de usar uma linha de 4 na defesa com dois laterais que tenham bastante vigor físico. Normalmente, o time busca amplitude de campo com os pontas e os laterais buscando alargar o raio de atuação do time, o que facilita a abertura de espaços na defesa adversária. Buscar essa ideia é uma coisa. Executá-la é outra e deixarei isso para a análise do elenco também.

Dois volantes que saibam sair, porém, um com maior responsabilidade defensiva. É assim que o Coritiba inicia com William Farias e Val. Atrelados à um meia com liberdade de criação, dois pontas e um centroavante.

Morínigo gosta de transições em velocidade, que o time chegue rápido ao ataque. Porém, a decadência da equipe começou muito por isso. A falta de variação de ideias de jogo.

Pulemos do assunto “esquema tático”, pois em campo, as ideias são muito mais importantes do que números de um 4-3-3, 4-2-3-1 etc. Os adversários do Coritiba, que não tinham um nível técnico que o clube enfrentará na Série B, viram que o time tinha uma ideia de construção ofensiva e não variava. Muito apoio de Igor pela direita, setor onde o clube tem carência de pontas e rodou alguns atletas ali, tornando a função do lateral Coxa ainda mais importante no ataque. Ao fechar aquele espaço, o time busca Igor Paixão, ainda inconsistente e sem o apoio de Romário, que, é pouco ofensivo. Rafinha, o até agora meia da equipe, é sempre muito marcado, tirando justamente a sua capacidade criativa. Com Rafinha marcado, Val, que tem bom passe, sempre recebendo pressão do meia adversário ou do atacante e com as portas do lado direito fechadas, o Alviverde não mostrou capacidade de buscar soluções. Insistiu em cruzamentos precoces, antes mesmo de chegar na área, em tentativas frustradas de achar Léo Gamalho e tentativas de inversões de jogadas que, com boas intenções de tentar abrir o jogo, se tornavam previsíveis pela insistência nelas.

O ponto de atenção ao treinador vem nessa capacidade de encontrar soluções e variações de ideias ofensivas para que a equipe não se torne previsível. Agora, muito do insucesso dele vem do próximo tópico.

Elenco

O Coritiba fez, até agora, 17 contratações. Alex Muralha, Igor, Romário, Henrique, Luciano Castán, Wellington Carvalho, Val, William Farias, Jhony Douglas, Robinho, Valdeci, Waguininho, Lucas Nathan, Tailson, Dalberto, William Alves e Leo Gamalho. Gustavo Bochecha, ainda não apresentado, deve confirmar a 18ª contratação na temporada.

Muito número e, até agora, pouca entrega. Na defesa, Henrique e Castán devem ser os titulares, uma vez que Wellington Carvalho não mostrou capacidade técnica para ser titular até aqui. O ponto de atenção é a velocidade desse miolo de zaga. Castán não é veloz e Henrique, apesar de ter atuado como o zagueiro do primeiro combate em vários jogos pelo Belenenses, não é mais tão veloz como antigamente. Sua leitura de jogo para posicionamento o ajuda nos confrontos 1×1 e bolas em profundidade, mas cabe ficar de olho no auxílio dos laterias e volantes. Farias e Val são os titulares da volância. Farias é, claramente, o cão de guarda da zaga. Recua para o meio dos zagueiros com frequência e sobe pouco ao ataque, ficando muito mais com a atenção ligada a possíveis contra-ataques. Val, mostrou ser um jogador com boa qualidade de passes e saída de bola, o que ajuda na ideia de Gustavo Morínigo, mas, sempre muito marcado pelos adversários que já esperam que ele inicie a transição ofensiva, Val tende a ter problemas e perder algumas bolas em posições perigosas do campo, além de ter um grave problema de marcação, pois sempre chega atrasado e corre risco de cartão praticamente todos os jogos (inclusive foi expulso contra o Rio Branco).

Jhony Douglas mal jogou, pois se lesionou pouco antes da primeira partida do Coxa na temporada e fica difícil uma real avaliação de sua contribuição. Pelo pouco que atuou, demonstra ser um reserva imediato do William Farias como primeiro volante mais mordedor.

Igor chegou como possível sombra pro Natanael e logo assumiu a titularidade e não saiu mais. Muito bom no apoio, com boa precisão nos cruzamentos, é uma das armas do Coritiba para municiar Léo Gamalho. Igor tem muita força física e consegue ser prolífico em boa parte do jogo. Justamente por apoiar bastante, Val sempre fica tendencioso a cobrir o seu espaço em caso de perda da posse de bola, por isso vale a atenção do lateral-direito Coxa e do treinador para essa recomposição defensiva por esse lado, que agora terá a ajuda do Henrique.

Léo Gamalho chegou e fez jus à fama de goleador. Com um excelente faro de gol, o atacante impressiona por sua capacidade de decisão em pouco espaço. O problema à Léo Gamalho é a falta de criatividade Coxa que o obriga a sair muito da área para auxiliar na construção ofensiva, deixando o atacante muito longe do gol e, muitas vezes, chegando atrasado em lances em que poderia estar melhor posicionado para concluir.

Essas foram as boas contratações. As demais, ou são muito incógnitas e peças para o banco de reservas ou simplesmente estão desempenhando um papel muito abaixo e aí mora o ponto de atenção para a Série B.

Wellington Carvalho e Romário começaram a temporada jogando ok. Romário até jogando bem. Porém, ambos caíram assustadoramente de produção, principalmente Romário. O lateral-esquerdo não apoia mais e tem problemas claros de marcação, tornando o lado esquerdo da defesa muito frágil. Com Castán sobrecarregado, Romário mal e Igor Paixão sem ser tão voluntarioso pra ajudar defensivamente, os adversários costumam levar muito perigo por aquele lado, sempre com superioridade numérica e velocidade pra profundidade.

Robinho tem um talento inegável, mas a apreensão de todos quando ele foi anunciado parece que irá se confirmar: quantos jogos na temporada ele estará saudável e com ritmo?

Valdeci, Lucas Nathan, Tailson não jogaram muito e, quando jogaram, pouco produziram. Talvez sejam jogadores para que se tenha profundidade de elenco pensando numa Série B longa e que teremos baixas de lesões e cartões. William Totó é incógnita e Muralha já o conhecemos, deve brigar pela titularidade com Wilson.

Agora, Dalberto e Waguininho mostraram total falta de capacidade de ajudar até aqui. Dalberto pouco jogou, é verdade. Sempre entrou do banco, mas foi muito mal em toda a sua minutagem em campo. Proporcionou lances de erro básico técnico e uma falta de leitura em campo que preocupou. O alento é seu histórico no Juventude que mostrou que, numa Série B, pode ajudar vez ou outra vindo do banco, como já faz.

Waguininho mostrou que não rendeu e não justificou sua contratação. Muito mal em todos os jogos, o jogador de lado do Coxa mostrou muita falta de capacidade técnica para condução da bola e puxadas de contra-ataque em velocidade. Além de tomadas de decisão muito ruins. No Guarani, Waguininho chegou a jogar como segundo atacante, onde teve seus melhores momentos. Aqui, chegou a jogar centralizado, mas como meia e não rendeu absolutamente nada. Uma peça que merece reavaliação para a sequência da temporada.

Ao todo, um elenco que necessita de peças para o time titular, como as duas pontas e a meia como mais urgentes. Apesar de muitas opiniões contrárias, o Coritiba poderia, sim, testar e utilizar Ângelo na lateral-esquerda, pois é um atleta que já demonstra (não significa que tenha) maturidade física, técnica e mental para atuar no profissional, abrindo a necessidade de contratar um jogador pra essa posição, salvando caixa para outras posições carentes.

O Coxa que inicia a temporada, considerando Henrique com Covid, deve ser:

Wilson
Igor, W. Carvalho, Castán e Romário
Farias, Val, Rafinha
Igor Paixão, Waguininho e Gamalho