Keirrison
Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Especial

Keirrison fala sobre a base do Coritiba: 'Não podemos analisar um jogador por conta de 20 minutos em campo'

Matéria por Eduardo Alcântara e Emerson Araújo

A valorização das categorias de base e colocar o assunto como pauta principal nos debates, têm sido uma das tarefas da diretoria do Coritiba neste ano e por isso, fala-se muito sobre o processo de transição dos atletas das categorias de base para o grupo principal. A Rede Coxa conversou com o cria da base Coxa-Branca, Keirrison, para saber mais sobre entendimento do período de transição dos atletas e a sua experiência na ascensão ao profissional. O jogador falou sobre o lado social, planejamento, estrutura e a sua história com a camisa Alviverde.

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Entrevista com o K9

O Coritiba nos últimos cinco anos revelou diversos atletas na equipe principal que foram destaques nas categorias de base. Porém, como em todos os casos de sucesso, existem alguns atletas que não conseguiram desempenhar o mesmo futebol apresentado nas categorias de base no grupo profissional. Alguns dos exemplos mais recentes são Pablo Thomaz, Luiz Henrique e Yan Sasse. Inúmeros fatores interferem na diferença de potencial apresentado pelos jogadores e Keirrison comentou sobre a transição e a diferença de futebol apresentado entre as etapas do crescimento profissional dos atletas.

– É natural essa diferença, porque são campeonatos bem diferentes. Do sub-17 para baixo são competições não tão competitivas comparadas com o profissional. O sub-20 é a categoria mais igualada ao profissional em questão a competitividade e níveis técnicos, porque é nessa idade que os atletas estão já no estágio final de preparação. Várias das escolhas são feitas baseadas na idade do atleta (…) A mentalidade é muito importante. É preciso ter uma equipe nas categorias de base que possam desenvolver essas situações de mentalidade. Os atletas vêm com suas culturas, vem das suas famílias com muitas coisas condicionadas. Como ele vem para o clube que precisa ter uma visão mais coletiva, é preciso de algo que melhore essa mentalidade dele. Não só no individual, mas no coletivo também, para que você possa ter atletas muito melhores em relação a tomada de decisões, escolhas e até questões pessoais.

Keirrison
K9 em seus primeiros anos de Coritiba. (Foto: Divulgação/Internet)

“É preciso também ter um trabalho voltado para o lado social. Quando você faz esse tipo de trabalho com o atleta, primeiro trabalho a pessoa e depois o atleta.”

Comentou K9.

Ansiedade pela estreia

Outro fator que está claro nesta temporada do Coritiba, é a interação entre aqueles jogadores mais ‘experientes’, como Henrique, Willian Farias, Castán, Wilson, Rafinha, Léo Gamalho e Robinho com aqueles jogadores que estão ainda nas suas primeiras temporadas no profissional. Keirrison ascendeu para o time profissional do Coritiba em 2006 e contou mais sobre a experiência e importância de atletas experientes no elenco.

– Esse aspecto é muito importante. Eu vivi isso em 2007 com o Coritiba. É preciso que os jogadores entendam sobre esse objetivo do clube de mesclar os experientes com a base, porque precisam de jogadores que consigam agregar os meninos a se desenvolver, a crescer. Então é preciso de atletas que tenham a mesma visão do clube. Então ter esse tipo de atleta agregado com os atletas da base, pode dar um resultado muito forte. Como foi o que aconteceu conosco em 2007. Existia uma competitividade entre os mais velhos e os mais novos. Às vezes aconteciam algumas discussões, mas tudo era resolvido dentro de campo e o principal objetivo era sempre conquistar vitórias e títulos. Então é preciso ter esses experientes, que passam para os atletas como é e o que significa representar o clube, que é algo que se perdeu durante algum tempo na nossa instituição. Espero que isso possa retornar. Espero que eles possam entender o que significa o Coritiba, tanto os meninos da base quanto os experientes, têm que passar tudo isso, mostrar toda a história, para que eles tenham essa identificação e eles possam fazer a parte deles seja dentro de campo ou com uma venda futura melhorando a situação financeira do clube.

Keirrison viveu o que muitos atletas como Angelo, Luizão, Biel, Márcio e Thalisson estão vivendo no Coritiba no atual momento: a ansiedade pelo seu momento de atuar no grupo principal. O atacante comentou sobre o seu inicio com apenas 17 anos no Verdão e todo o processo planejamento do clube – também falou sobre a mudança do cenário de 2021 para a época em que estreou com o Coxa em 2006.

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– Dos atletas aí, eu tenho acompanhado também, né? Eu estreei com 17 anos. Tinha acabado de completar dezessete anos e vim de uma boa Taça São Paulo, junto com outros meus companheiros também que subiram. Acho que você tem que entender o momento de cada atleta. Óbvio que é importante você ter atletas que se destacaram na base fazendo por onde os seus resultados. Mas eu vejo que é muito uma questão de como está ocorrendo essa transição. Saber como está sendo feito o preparo de cada atleta. (…) Óbvio que são cenários diferentes, estamos falando de um cenário em 2006 que foi o ano em que subi, hoje estamos falando de 2021. Muitas coisas mudaram, mas eu acho que é preciso transferir para estes atletas mais novos certa responsabilidade, para eles desejarem estar em campo, para que consigam executar no profissional o que faziam na base e consigam demonstrar resultados. Não podemos isentá-los completamente, porque se eles estão no profissional, eles já estão se tornando homens suficientes para tomar suas decisões, suas próprias escolhas. (…) Desta maneira é muito mais fácil colocá-lo no profissional. Ele precisa jogar, senão não tem como saber se renderá ou não no profissional. É preciso dar a minutagem necessária para que ele se desenvolva. Não podemos analisar um jogador por conta de 20 minutos em campo. É preciso dar uma bagagem, uma experiência, colocá-lo em desafios para que possamos saber exatamente até onde o atleta vai.

Keirrison
K9 no grupo em seus primeiros anos de Coritiba (Foto: GazetaPress)

“Não podemos analisar um jogador por conta de 20 minutos em campo”

Comentou Keirrison.

O atleta-torcedor

Keirrison nunca negou seu amor pelo Verdão. O Couto Pereira foi sua casa – literalmente – por muito tempo e a sua relação com o Coxa sempre foi uma relação de atleta-torcedor. Na atual temporada, mesmo já sendo muito experiente, o zagueiro Henrique Buss nunca deixou de esconder seu amor pelo Alviverde Paranaense e o jogador já comentou que esse foi um dos fatores que o trouxe novamente para o Coritiba. Keirrison comentou sobre essa relação com o clube e se isso interferiu no seu desempenho profissional.

“Sou sócio do clube e continuo torcendo sempre”

K9 comentou que acompanha o Verdão em todas as partidas.
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Keirrison na última partida do ídolo Alex pelo Coritiba. (Coritiba/Divulgação)

– Essa relação já iniciou desde cedo. Com meus 14 anos já fazia parte das categorias de base do Coritiba e a partir daí já começou esse relacionamento com o clube/instituição. Morando ali no Couto Pereira você aumenta essa relação com o clube, esse sentimento, porque foi esse clube que me proporcionou a oportunidade de sair da minha cidade. Se tornou uma casa para mim. Por isso que eu sempre falei que me sentia em casa no Coritiba, porque eles me abrigaram desde que eu saí de casa em Mato Grosso do Sul, cidade de Dourados. Então esse sentimento de torcedor já aflorava. Quando eu estava na base, nós tínhamos a oportunidade de assistir o jogo no estádio e era do lado da nossa cama onde dormimos. Era só descer uma escada que nós já estávamos em uma arquibancada. Nós podíamos sonhar, sentir o calor da torcida, sentir que anos depois poderíamos estar ali no campo e poder viver isso com os torcedores. Óbvio que eu sempre tentava separar um pouco. Quando você é um atleta, você precisa ter o equilíbrio. Nos jogos que eu fiquei de fora, o sentimento de torcedor aflora mais porque você quer ver sua equipe vencer. Mas quando você está como atleta você tenta ter um equilíbrio maior para que você foque e busque o objetivo que você tem. Quando eu retornei para o clube todo esse sentimento de torcedor estava comigo, que mesmo a distância estava torcendo pelo clube e óbvio que o que eu mais queria era ajudar a instituição e fazer parte da história. O lado torcedor sempre existiu e sempre vai existir. Sou sócio do clube e continuo torcendo sempre. Eu creio que o equilíbrio sempre vai ajudar a você. Mesmo agora a distância, o lado torcedor vai ser sempre mais forte.