Carta de um mero torcedor ao Coritiba

Na última semana, a diretoria do Coritiba tem anunciado algumas estratégias visando fidelizar seu torcedor e aumentar o quadro de sócios. Primeiro, um reajuste no valor de ingressos: R$200 (inteira) e R$100 (meia) – como valor mais barato para entrar no estádio. Depois, uma política de adesão de sócios que exige o pagamento adiantado de 6 mensalidades.

O propósito é, de fato, muito importante para o clube. Porém a forma para alcançar esse objetivo parece arriscada e até desrespeitosa com parte da torcida. Mostra descaso com o torcedor que não tem condições de ir ao estádio com frequência e isso é realidade para muitos torcedores. Estamos ignorando principalmente torcedores de baixa renda e torcedores que não moram em Curitiba.

Existem outras formas de fidelizar o torcedor esporádico, aquele que aparece apenas nos bons momentos do clube. Este já tem um perfil diferente e acredito que seja o real público-alvo nesta mudança de política: tem condições de pagar uma mensalidade, às vezes se associa, mas se mantem sócio por um curto prazo. Apenas conhecendo bem o público com o qual trabalha para chegar a estratégias assertivas de marketing e parece que a diretoria não conhece muito bem a torcida do Coritiba com estas decisões especificamente. Entendo que o objetivo é aproveitar o bom momento do time para incentivar associação, mas não vale pensar em outras formas de angariar e manter sócios que não sejam somente aumentar valor de ingresso e exigir valor adiantado para adesão dos sócios?

Afastar a maioria dos torcedores para tentar conseguir um número a mais de sócios é uma estratégia promissora? Isso será de fato financeiramente mais benéfico para o clube que o estádio mais cheio em todos os jogos? Compensa estádio mais vazio e vender menos ingressos para ter um quadro associativo maior? Acredito que só o tempo dará essa resposta.

Vou dar um exemplo muito simples e próximo: há 15 anos, eu frequentava o Couto esporadicamente pois não tinha condições de pagar uma mensalidade de sócio. Portanto, o jogo avulso era uma opção. E isso não me tornava menos torcedor do que aquele que podia pagar o sócio. Com o tempo pude ter melhores condições e hoje sou sócio há 4 anos.

O que o Coritiba tem a dizer para o torcedor que, no momento, não tem condições de se manter sócio e nem pagar 200 reais no ingresso mas quer frequentar o estádio quando possível? No futuro, quem sabe, estará no quadro associativo com mais consistência. Não existem formas não excludentes de atrair potenciais sócios e fidelizá-los?

Por que não ter ingressos mais baratos e um plano mais popular de sócio para o setor da Mauá, que é o menos frequentado do estádio? Não existem outras soluções para equilibrar esta decisão? Dar nenhuma opção ao torcedor que não tem condições financeiras ou logísticas para frequentar o estádio?

Vale a reflexão de que o Coritiba e o futebol só tem a perder com essa forma de elitização. Saibam equilibrar os anseios da torcida com o que clube precisa. Se a gente pesa a balança apenas para um lado, isso pode se tornar um tiro no pé.