Opinião
Hora de mudar (?)
Minha coluna de hoje é um convite para reflexão sobre destino do futebol brasileiro e, consequentemente, a adequação do Coritiba e de nós torcedores a uma nova realidade, especialmente em relação ao comportamento nos estádios.
Antes de começarmos a tratar propriamente do assunto, é necessário que partamos de algumas premissas. A primeira delas é admitir que a sociedade está em constante evolução e revisão de seus conceitos, de modo que não haja algo absoluto ou perene na conduta das pessoas. A segunda é que a defesa de determinado nicho social vulnerável não é exclusividade de determinado alinhamento político ou religioso: o respeito às diferenças e aos Direitos Humanos transcende a discussão ideológica.
Pois bem.
Mês passado, na partida disputada entre Vasco e São Paulo pela Série A do Brasileirão, foram ouvidos das arquibancadas de São Januário cânticos homofóbicos perpetrados contra o time paulista. De pronto – e ao encontro do que a FIFA e o STJD recomendam – o árbitro da partida, Anderson Daronco, paralisou a peleja para alertar jogadores e o técnico vascaínos sobre a inadequação da prática e a sujeição a sanções, o que constou em súmula.
Nada mais justo. Assim como é sabido que arremessar objetos ou invadir o gramado traz punições à instituição, é bom que vislumbremos que em breve esse tipo de atitude estará no radar Procuradoria do STJD.
Bom, o que isso tem a ver com o Coritiba?
Na última partida que estive Couto, analisei o comportamento das arquibancadas, considerando esse novo panorama que as entidades diretivas do futebol brasileiro buscam emplacar. Notei que muitas das músicas tradicionais na nossa torcida, além de exaltar a violência, inclusive om apologia ao estupro, também são dotadas de conteúdo claramente discriminatório e ofensivo à comunidade LGBTQI+.
Tenho consciência de o futebol é circundado por uma bolha e, para muitos, diversos comportamentos – enojantes – se tornam aceitáveis nesse ambiente, porém, o futuro que se apresenta e a necessidade de respeito ao ser humano – não apenas ao semelhante, mas especialmente ao diferente – impõe que revejamos essas questões.
O futebol não é um mundo à parte, ele está inserido em nossa sociedade. Queiramos ou não, o tempo muda o que outrora tínhamos como absoluto. Tivemos de se acostumar com a ideia de que a Terra não era plana e o centro do Universo, algo muito mais paradigmático. Somos capazes. Repensarmos simples músicas como essas não me parece uma tarefa tão difícil.
A rica história do Coxa apresenta um vasto conteúdo para inspirar nossa torcida em músicas que engrandeçam a instituição, em vez de enaltecer a ofensa e a discriminação.