Opinião
Um ano em duas semanas
Foram duas semanas intensas, vivendo e respirando Coritiba como nunca antes. Lógico que já vivi outros jogos com expectativa alta, que me deixaram ansiosa e sem dormir. É que essas duas semanas trouxeram outros sentimentos além da ansiedade: era a certeza de que a Série A não era só um desejo, mas também uma questão de sobrevivência. E os quinze dias entre o final de jogo contra o Oeste e o final de jogo contra o Vitória foram completamente atípicos. Eu só pensava no Coritiba.
Na semana que antecedeu o jogo contra o Bragantino, sofri com os jogos dos adversários na quinta e na sexta. O empate do Atlético-GO diante do Brasil de Pelotas nos acréscimos trouxe à tona toda a tensão guardada, que começou a tomar conta de mim. Trabalhar naquela sexta foi bem complicado, porque eu já estava completamente com a cabeça no domingo. Depois veio o jogo do América-MG, e mais uma vitória de um adversário direto. O último confronto em casa ganhou contornos dramáticos, porque mesmo vencendo iríamos ter que pontuar na última rodada fora de casa.
Aí veio o jogo. A vitória era obrigatória. Eu não preciso nem dizer o quanto foi intensa aquela tarde e o quanto o Couto Pereira transbordou amor e paixão. Parecia que a gente não ia conseguir, e aí aconteceu aquele gol de falta, já aos 37 do segundo tempo. Eu não consegui não chorar quando vi a bola estufar a rede. Um choro de alívio. A alegria contagiou todo mundo depois do apito final, mas na segunda-feira já caiu a ficha: ainda faltava um ponto, e mais uma semana pela frente pra aguentar antes da bola rolar para a última rodada.
Nós, da Rede Coxa, decidimos juntar a galera para assistir ao jogo. Pesquisamos locais e a viabilidade, até chegarmos na escolha perfeita: Mercado Sal. Lugar para 2500 pessoas e várias opções de comida e bebida pra galera. Fechado. Agora, era só o Coxa subir pra tudo ser um sucesso. Passamos a semana toda fazendo a divulgação e controlando a expectativa. Os dias foram passando, a ansiedade aumentando… De 27 combinações possíveis na última rodada, subíamos em 26, e mesmo assim eu não conseguia ficar tranquila.
Até que chegou. Chegou o sábado, chegou a hora do jogo. No Mercado Sal, não parou de chegar gente. Foram 5 mil coxas juntos que sentiram de tudo durante os pouco mais de 90 minutos de jogo (sem contar o antes e o depois). A tensão pré-jogo, a esperança no apito inicial, a euforia nos gols do São Bento, o medo quando o Vitória abriu o placar, a aflição durante o intervalo, a explosão no gol de empate, a emoção no gol da virada e o alívio no apito final. A Série A havia chegado.
As duas últimas semanas de campeonato acabaram, e eu percebi que tinha vivido 2019 inteiro nelas. Acho que só quem viveu 2018 ao lado do Coritiba é capaz de entender porque as minhas lágrimas não paravam de cair ao concretizarmos o nosso objetivo. Vendo todo mundo feliz, eu lembrei de quando estava no Couto, no ano passado, para assistir Coritiba x Fortaleza pela última rodada da Série B. Éramos o 10° colocado. Quando me veio essa recordação na cabeça, eu mesma entendi as minhas lágrimas e me deixei tomar pela emoção.
O ano de 2019 resgatou a torcida, resgatou o Couto Pereira, resgatou o orgulho de ser Coxa através da eternização do nosso maior ídolo, que nos deixou. E por falar nele, não posso deixar de lembrá-lo neste texto: não fosse por ti, Krüger, esse ano poderia ter sido um dos piores na história de qualquer torcedor do Coxa. Sem competições relevantes, perdendo o Estadual, jogando apenas uma Série B e oscilando na tabela. Mas você, Dirceu, deixou o teu amor pelo Coritiba aqui quando foi embora, e ele se espalhou entre todos nós, fazendo com que cada um se tornasse um pouquinho mais coxa-branca. Você nos uniu novamente e nos ajudou na empreitada do acesso. Só me resta agradecer por ter nos ensinado tanto até na sua partida! Tenha certeza: no ano que vem e para sempre, seremos ainda mais resilientes do que fomos até agora, e vamos cuidar do nosso querido Coxa.
Aliás, os desafios serão enormes, e a nossa força também terá que ser. Teremos que estar unidos em 2020 mais até do que estivemos neste ano. Mas esse é um papo pra outra hora. Agora, vamos comemorar o alívio de estarmos de volta e o fim destas duas últimas semanas. Finalmente, voltamos ao nosso lugar.